Imóveis em tempo real: as cidades onde os imóveis voam

No mundo do investimento imobiliário, há uma variável silenciosa, mas decisiva: a liquidez. Muito se fala sobre rentabilidade, risco, diversificação ou valorização do capital, mas raramente é destacado um indicador que defina a agilidade com que uma propriedade pode ser comprada ou vendida sem sacrificar o preço ou o valor estratégico.

Atualmente, enquanto alguns mercados tradicionais estão perdendo o dinamismo, outros - mesmo em regiões anteriormente periféricas - estão ganhando velocidade, volume e profundidade transacional. Compreender esse mapa em transformação tornou-se fundamental para investidores institucionais, incorporadores e gestores de fundos.

O que é liquidez no setor imobiliário e como ela é medida?

A liquidez do setor imobiliário mede a facilidade de sair (ou entrar) em um investimento sem alterar substancialmente o preço de mercado. Diferentemente dos ativos de ações, os imóveis normalmente não têm liquidez: as propriedades não são vendidas "em segundos". Entretanto, essa realidade varia muito de acordo com o país, a cidade, o tipo de ativo e o ciclo econômico.

As principais métricas usadas pelos analistas incluem:

  • Taxa de rotatividade: qual porcentagem do estoque de imóveis é negociada em um ano.

  • Tempo no mercado: número médio de dias que leva para vender uma propriedade.

  • Volume absoluto de transações: total em dólares americanos ou m² negociado em um determinado período.

  • Profundidade do mercado: número de participantes ativos (compradores e vendedores).

  • Diferenciais de preço: diferença entre o preço listado e o preço de venda efetivo.

O "Global Real Estate Liquidity Index 2025", elaborado pela JLL e pela Real Capital Analytics, estabelece um ranking anual com base nessas variáveis. Em sua última edição, publicada em abril deste ano, identificou as cidades com os mercados mais líquidos e aquelas que estão ganhando ou perdendo força.

Os 10 mercados mais líquidos do mundo (2025)

  • Nova York (EUA)

  • Londres (Reino Unido)

  • Tóquio (Japão)

  • Paris (França)

  • Los Angeles (EUA)

  • Sydney (Austrália)

  • Cingapura

  • Toronto (Canadá)

  • Frankfurt (Alemanha)

  • Miami (EUA)

Os Estados Unidos respondem por 41% do volume global de transações institucionais. O relatório destaca que, em cidades como Nova York e Miami, o tempo médio para fechar negócios em ativos logísticos e multifamiliares é de apenas 30 a 45 dias, um padrão sem precedentes mesmo após a pandemia.

Quais mercados estão perdendo liquidez?

O mesmo estudo identifica cidades onde a liquidez está sendo corroída, principalmente devido à instabilidade macroeconômica, controles de câmbio, incerteza jurídica ou desaceleração da demanda:

  • São Francisco: afetada pelo teletrabalho e pela fuga das empresas de tecnologia.

  • Hong Kong: pressão geopolítica e restrições governamentais.

  • Barcelona: limitações de compra no exterior e regulamentos de aluguel.

  • Santiago do Chile: queda acentuada no volume de escritórios e varejo.

E quem está ganhando liquidez?

De acordo com o Emerging Trends in Real Estate - Global 2025 (PwC & Urban Land Institute), novos nódulos de liquidez estão surgindo em cidades de médio porte que se tornaram atraentes devido ao crescimento populacional, à melhoria regulatória e à digitalização:

  • Austin, Texas

  • Lisboa, Portugal

  • Seul, Coreia do Sul

  • Dubai, Emirados Árabes Unidos

  • Cidade do México (setor industrial)

Essas cidades dobraram ou triplicaram seu volume de transações nos últimos cinco anos, especialmente nos segmentos de logística, residencial de médio porte e espaços flexíveis.

O que está acontecendo na América Latina?

Os níveis de liquidez na região são muito heterogêneos. De acordo com o Latin America Real Estate Market Report 2025 da CBRE e da Tinsa, a liquidez depende muito do segmento:

  • Industrial e logística: as mais líquidas, especialmente no México (CDMX, Monterrey, Guadalajara), Colômbia (Bogotá) e Brasil (São Paulo).

  • Residencial premium: alto volume de negócios em Buenos Aires, Lima e Medellín, com uma forte presença de compradores locais buscando proteção contra a inflação ou restrições cambiais.

  • Escritórios e varejo: permanecem sem liquidez na maioria das capitais, com grandes vazios estruturais e baixo apetite dos investidores.

Na Argentina, a liquidez é um fenômeno de nicho: muito baixa na maioria dos segmentos, mas um pouco mais ágil em empreendimentos residenciais compactos em bairros com alta demanda de aluguel. No entanto, fatores como o hedge da taxa de câmbio, a falta de crédito e a informalidade do mercado limitam o volume de negócios.

Quais são as tendências que afetam a liquidez atualmente:

  • Tokenização e digitalização de ativos: isso possibilita a venda de pequenas ações de imóveis, gerando novos mercados secundários.

  • Plataformas transfronteiriças: os mercados internacionais estão conectando o capital asiático com imóveis europeus e latino-americanos.

  • Transparência regulatória: a existência de cadastros digitais, registros públicos on-line e regras claras aumenta a confiança e facilita as operações.

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